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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Apagando o quadro...

Aqui em Timor, cada vez que eu apago o quadro, com uma flanela ou apagador precário, minha mente voa em frações de segundos. Por um lado tantos problemas sociais, tanta pobreza, tantas dificuldades. Por outro eu tentando malabarismos e acrobacias pedagógicas para fazer os alunos compreenderem e se comunicarem em língua portuguesa.
O sistema educacional aprisiona as almas em regras pré-estabelecidas por uma sociedade elitista caótica e incompetente. Mas é esse o sistema considerado o correto. Estabelece-se a hierarquia dos saberes, elenca-se as verdades científicas a serem discutidas e formata-se modelos rígidos que escravizam, catequisam e classificam melhores e piores.
Este povo, que não teve direito ao respeito e à liberdade é, agora, compelido a entrar em um sistema duvidoso para ganhar respeitabilidade enquanto Nação. Para tal, recebe a “ajuda” de profissionais estrangeiros que, ainda que alguns tenham boa-vontade, trabalham dentro dos conceitos e parâmetros quase que opostos aos presentes por cá. Impacientam-se, indignam-se e chateiam-se com as dificuldades do chamado “ritmo timorense”, lento e metódico. Mas não desapegam-se dessa total prepotência aprendida nas academias de todo o mundo, recusando, mais uma vez, o respeito tão merecido ao povo e à cultura timorenses.
Parece-me que o exercício da tolerância está longe de tornar-se entendido, quiçá de ser praticado. Parece-me ainda, que as sutilezas da educação nem sequer chegarão a ser percebidas por cá num certo espaço de tempo, visto que nem mesmo o obvio é entendido pelos profissionais da educação. Mas parece-me que tudo isto, por algum motivo e de alguma forma é extremamente necessário e relevante, e ainda fará história nesta cultura de cá, na cultura brasileira e na cultura lusófona de um modo geral.
Se assim não for, continuo apagando o quadro, para escrever novamente e de novo apagá-lo, num processo contínuo de construir novos caminhos, novas perspectivas e alcançar algum entendimento.
Educar e ensinar não são tarefas fáceis, definitivamente. Não exigem de nós estudo apenas. Mas necessitam de constante “refazer de ações refeitas”, num exercício cansativo de tolerar o que é diferente, o que provoca nosso orgulho e egoísmo e, que, na verdade, nos impede de realmente aprender e, como já dizia o mestre Paulo Freire, de repente ensinar!