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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Ai funan barak


Diak ka lae, kolega sira!

Assim como em língua portuguesa, a expressão de agradecimento “obrigado”, se tomada ao pé da letra, não faz o menor sentido, isso transposto para a língua tétum de Timor, igualmente perde o sentido literal, ganhando significado em seu uso social.
No entanto, em uma das minhas aulas de língua tétum e cultura timorense, tive a oportunidade de receber a visita de um professor timorense que veio compartilhar algumas ideias com a turma e, dentre elas trouxe-me mais uma das pérolas de Timor.
Explicou-nos, o mestre de Baucau, que no passado, quando o tétum não sofrera ainda as influências e interferências da língua portuguesa, os timorenses possuíam uma expressão muito singular para manifestar agradecimento em situações desse tipo. Diziam “ai funan barak” que, literalmente, significa “muitas flores”. Isso, acompanhado do gesto das mãos fechadas palma com palma trazidas junto ao coração, e o olhar de profunda gratidão buscando a alma da pessoa a quem se agradece, através de seus olhos, confirgura um dos maiores poemas que já “li” por aqui e que traduzo abaixo:

“Por você ser...
Por ter feito...
E pelo que poderá fazer...
Minha alma retribui
Com muitas flores
Que meu coração produz!”

Ai funan barak, kolega sira!

sábado, 13 de abril de 2013

Reflexões de um bimestre (quase!)


Maun sira, mana sira, diak ka lae?

Importante e impressionante como o sentido de tempo perde o sentido quando o foco de nossas vidas aponta para direções surpreendentes. Estou há quase dois meses em Timor e vivi já aqui mais de seis meses de acontecimentos, aprendizagens de vida e desenvolvimento humano e profissional. Meu trabalho é de gestor, aparentemente, mas de educador de fato. E na educação não há tempo determinado, mas processo contínuo de aprendizagens, encantos, desencantos e crescimento. As etapas que estabelecemos nesse processo são meramente psicológicas, para que percebamos os degraus que já galgamos (e os que ainda estão por vir!).
Nesse tempo intenso, eu já tive oportunidade de auxiliar quem não conhecia a realidade desse país, desse povo e as marcas, visíveis ou não, que ainda estão por cá. Lemos e discutimos sobre os nossos ofícios. Nos submetemos às normais adaptações de ego pelas quais passam todos os seres humanos que se dispõem a trabalhar em equipe. Ressignificamos nossas vidas em um novo contexto, com novos personagens, novos enredos e novas expectativas.
E o mais interessante, talvez, tenha sido viver tudo isso após um período de três meses em “meu” país, “minha” cidade, com os “meus”! Num estágio providencial de vivência no ambiente que, no passado, eu considerava o mais adequado possível, e que se configurou sufocante e restrito, motivando as mudanças que me trouxeram ao “outro lado do mundo” ano passado.
Algumas verdades de outrora são hoje meras lembranças da pequenez do pensamento humano que insisti em manter como carapaça de segurança – irreal – mas confortável que tinha. Os amores, os valores e os temores são configurados de forma diferente hoje, mantidos seus teores, mas nunca seus horrores! E aquilo que eu me impunha possessivamente como “meu”, já não está tatuado na bolha que me convinha viver dentro.
Timor fez eu perceber que quem se aventura no campo minado da Educação deve estar despido dos dogmas satisfatórios da vida moderna e me fez entender que os conceitos de “país”, “lugar”, “tempo”, “amores”, entre outros, são tão transitórios quanto convencionais e que a ideia de que são nossos pilares de equilíbrio também é invertida. Nós somos nosso próprio pilar e isso não é egoísmo ou isolamento, mas um aspecto elucidativo do nosso papel responsável por nós mesmos, sem pré-requisitos ou responsabilidades coadjuvantes.
Timor, cada vez mais, me transmite a sensação de que precisamos de muito pouco para sermos felizes e para entendermos que dignidade está muito mais relacionada com a forma como organizamos nossas vidas do que com os impedimentos que estabelecemos para que não nos sintamos bem!
“Professor, se é em português, em bahasa indonésio, em tétum ou em inglês que vamos ter que conversar não importa, o que importa é que os corações das pessoas consigam conversar sem medo!” Assim me falou um professor de escola secundária (Ensino Médio)... assim ele me desmontou... e me reconstruiu!

Loron diak ba hotu-hotu!