Conhecer um pouco mais sobre o “modus
vivendi” e a cultura Indonésia, após ter estudado um pouco aquele país em
minhas caminhadas por lá, algumas reflexões me ocorrem, nada definitivo, mas
que abrem caminhos para novos pensamentos e ideias sobre o Timor-Leste e sobre
as transformações que ocorrem em minha vida neste ano de 2012.
A Indonésia se descortinou para
mim de forma caótica, fantástica e revoltante. Explicarei. O fato de haver
muitos habitantes por km² (mais de 230 milhões de habitantes), em suas quase 16
mil ilhas, faz com que a administração pública seja algo realmente complexo.
Como se não bastasse tais números, o país apresenta o agravante religioso
islâmico, hindu e budista que, por si só, são complexidades esplêndidas. Isso
torna o país um tanto quanto confuso e interessante, ao mesmo tempo
desesperador.
O trânsito é algo que não há
palavras para descrever, apenas uma dúvida: como milhares de motocicletas
transpassando filas intermináveis de carros não chocam-se umas com as outras ou
ainda com os transportes informais locais, tipo, bicicletas com cadeirinhas na
frente conduzindo turistas e moradores, tuk-tuks (pequenas motos com cabine
para passageiros) e charretes??? Bem, é assim... tudo isso, o tempo todo, em
todas as ruas a balburdiar a cidade de forma exaustiva e terrível. Se não são
engarrafamentos infinitos – como em Jakarta – é um fluxo pesado e contínuo de
veículos, a ponto de não se conseguir atravessar uma rua. Solução? O governo
conseguiu alguns paliativos construindo passarelas de pedestres em diversos
locais. Transporte público de qualidade? Pra quê? Faixas de pedestre, semáforos
e leis de trânsito? Por quê?
O Brasil conseguiu uma política
de formação de condutores e legislação de trânsito considerável. Mas, enquanto
muitos países da Ásia têm investido pesadamente em transporte público seguro,
acessível e de qualidade para diminuir o fluxo de veículos nas ruas, o Brasil
nem barateia os impostos dos veículos, nem oferece o transporte público
decente. E Timor???? Bem, este herdou a
confusão de trânsito que há na Indonésia e a incompetência administrativa
portuguesa (que é evidente em nosso país também).
Aqui em Timor as buzinas e a
displicência são os mesmos que vi nas ruas da Indonésia, onde, também, andar de
táxi é uma aventura sempre radical! Isso sem contar nos motoqueiros que parecem
sempre estar fugindo da morte!
Outro aspecto interessante da
Indonésia é a diversidade religiosa – que não nos espanta no Brasil – mas que
por aqui se concretiza pelas três facções dominantes: o islamismo, o budismo e
o hinduísmo. São três grandes forças culturais mas que movimentam todo o país,
quer no aspecto cultural, quer no turismo e comércio, ou mesmo na política financeira,
na qual o islã surpreende pela suntuosidade de suas mesquitas e bancos! Tanta
diversidade assim, com seus ritos e crenças particulares que refletidas no
comportamento social do povo e nos exageros dogmáticos existentes, chamam a
atenção de nós que assistimos a tudo de fora, nos fazendo ter algumas
impressões interessantes.
O islamismo marca-se pesadamente
pela sua arte arquitetônica e pela arte na grafia, não se permitindo expressões
artísticas que reproduzam o ser humano, o que só Alah pode fazer. Preservam
seus espaços religiosos, seus ritos e mostram a sobriedade e a força de sua
crença na vida das pessoas, por véus e burcas e chamadas para rezas a cada hora
ímpar. São fortes em sua postura e marcam seus espaços com veemência. Isso tudo
contrasta com o politeísmo colorido e hospitaleiro de templos budistas e
hinduístas, com o perfume dos incensos e com as vestes chamativas indianas, com
o dourado de budas alegres e o colorido multiforme e psicodélico dos inúmeros
deuses hindus. As flores e as frutas ofertadas no hinduísmo, o culto aos
antepassados no budismo e o sorriso com que nos conduzem aos seus lugares
sagrados nos deixam bastante confortáveis nesses espaços.
No Brasil eu vejo uma forte
bancada evangélica conservadora e retrógada tomando conta de espaços políticos
e manipulando importantes avanços sociais “em nome de Deus”, tal como o islã
tem feito. Não é a preservação de uma crença religiosa, mas o controle de um
comportamento social, em outras palavras, uma dominação imperialista como outra
qualquer. As demais religiões não são tão representativas, umas por que não
convém pois teriam que sair de sua zona de conforto, outras por que são tratadas
como marginais e inferiores, como se muito pastorzinho que tem por aí também
não acendesse suas velas e batesse seus tambores para alcançar “uma graça”.
Em Timor, a crença católica é
rigorosa, conservadora, controladora e dominadora. Se sobrepôs às práticas religiosas
tribais existentes no passado com o pretexto da difusão linguística portuguesa
e do refrigério espiritual frente a tantas guerras existentes. Está tão
presente na política do país, como o islamismo nos países muçulmanos e os evangélicos
no Brasil. Inclusive praticando as mesmas incoerências e desmandos, impondo
seus dogmas tal e qual, pois é controlando e disciplinando que se formam os
exércitos de formiguinhas a levar comida para a formiga-rainha. Mas não podemos
esquecer que religião é um fator cultural e, portanto, deve ser respeitado!
Mas a Indonésia fascina. O caos é
um alerta e um convite à reflexão. A diversidade religiosa é um toque de arte,
de cor, de perfume, de música, de movimento e de amor que, em sua filosofia nos
deixa encantados, e em sua prática humana mundana, revoltados. Tudo isso num
contexto de sabores picantes e exóticos, adornados por paraísos naturais
diverso que vão desde os inúmeros vulcões ao paraíso cristalino de mares,
praias e verdes recantos. Um país cujo povo sustenta a bandeira da
Independência dos holandeses conquistada à força, um país que sofreu a invasão
japonesa durante a segunda guerra e que, apesar de ter sofrido toda essa
opressão, diz ter sido “forçada a anexar o território de Timor-Leste, dadas as
condições instáveis daquele país e atendendo a pedidos de lideranças políticas
timorenses.” – Palavras lidas no Museu Nacional da Indonésia, em Jakarta, no
Monumento à Independência, Merdeka Square.
Parece irônico, mas é apenas
humano e bem corriqueiro... se fizeram comigo, posso fazer com os outros!
Viajar amplia os horizontes!
Loron diak hotu-hotu!