Total de visualizações de página

domingo, 15 de julho de 2012

Confissões de um viajante


Conhecer um pouco mais sobre o “modus vivendi” e a cultura Indonésia, após ter estudado um pouco aquele país em minhas caminhadas por lá, algumas reflexões me ocorrem, nada definitivo, mas que abrem caminhos para novos pensamentos e ideias sobre o Timor-Leste e sobre as transformações que ocorrem em minha vida neste ano de 2012.
A Indonésia se descortinou para mim de forma caótica, fantástica e revoltante. Explicarei. O fato de haver muitos habitantes por km² (mais de 230 milhões de habitantes), em suas quase 16 mil ilhas, faz com que a administração pública seja algo realmente complexo. Como se não bastasse tais números, o país apresenta o agravante religioso islâmico, hindu e budista que, por si só, são complexidades esplêndidas. Isso torna o país um tanto quanto confuso e interessante, ao mesmo tempo desesperador.
O trânsito é algo que não há palavras para descrever, apenas uma dúvida: como milhares de motocicletas transpassando filas intermináveis de carros não chocam-se umas com as outras ou ainda com os transportes informais locais, tipo, bicicletas com cadeirinhas na frente conduzindo turistas e moradores, tuk-tuks (pequenas motos com cabine para passageiros) e charretes??? Bem, é assim... tudo isso, o tempo todo, em todas as ruas a balburdiar a cidade de forma exaustiva e terrível. Se não são engarrafamentos infinitos – como em Jakarta – é um fluxo pesado e contínuo de veículos, a ponto de não se conseguir atravessar uma rua. Solução? O governo conseguiu alguns paliativos construindo passarelas de pedestres em diversos locais. Transporte público de qualidade? Pra quê? Faixas de pedestre, semáforos e leis de trânsito? Por quê?
O Brasil conseguiu uma política de formação de condutores e legislação de trânsito considerável. Mas, enquanto muitos países da Ásia têm investido pesadamente em transporte público seguro, acessível e de qualidade para diminuir o fluxo de veículos nas ruas, o Brasil nem barateia os impostos dos veículos, nem oferece o transporte público decente. E  Timor???? Bem, este herdou a confusão de trânsito que há na Indonésia e a incompetência administrativa portuguesa (que é evidente em nosso país também).
Aqui em Timor as buzinas e a displicência são os mesmos que vi nas ruas da Indonésia, onde, também, andar de táxi é uma aventura sempre radical! Isso sem contar nos motoqueiros que parecem sempre estar fugindo da morte!
Outro aspecto interessante da Indonésia é a diversidade religiosa – que não nos espanta no Brasil – mas que por aqui se concretiza pelas três facções dominantes: o islamismo, o budismo e o hinduísmo. São três grandes forças culturais mas que movimentam todo o país, quer no aspecto cultural, quer no turismo e comércio, ou mesmo na política financeira, na qual o islã surpreende pela suntuosidade de suas mesquitas e bancos! Tanta diversidade assim, com seus ritos e crenças particulares que refletidas no comportamento social do povo e nos exageros dogmáticos existentes, chamam a atenção de nós que assistimos a tudo de fora, nos fazendo ter algumas impressões interessantes.
O islamismo marca-se pesadamente pela sua arte arquitetônica e pela arte na grafia, não se permitindo expressões artísticas que reproduzam o ser humano, o que só Alah pode fazer. Preservam seus espaços religiosos, seus ritos e mostram a sobriedade e a força de sua crença na vida das pessoas, por véus e burcas e chamadas para rezas a cada hora ímpar. São fortes em sua postura e marcam seus espaços com veemência. Isso tudo contrasta com o politeísmo colorido e hospitaleiro de templos budistas e hinduístas, com o perfume dos incensos e com as vestes chamativas indianas, com o dourado de budas alegres e o colorido multiforme e psicodélico dos inúmeros deuses hindus. As flores e as frutas ofertadas no hinduísmo, o culto aos antepassados no budismo e o sorriso com que nos conduzem aos seus lugares sagrados nos deixam bastante confortáveis nesses espaços.
No Brasil eu vejo uma forte bancada evangélica conservadora e retrógada tomando conta de espaços políticos e manipulando importantes avanços sociais “em nome de Deus”, tal como o islã tem feito. Não é a preservação de uma crença religiosa, mas o controle de um comportamento social, em outras palavras, uma dominação imperialista como outra qualquer. As demais religiões não são tão representativas, umas por que não convém pois teriam que sair de sua zona de conforto, outras por que são tratadas como marginais e inferiores, como se muito pastorzinho que tem por aí também não acendesse suas velas e batesse seus tambores para alcançar “uma graça”.
Em Timor, a crença católica é rigorosa, conservadora, controladora e dominadora. Se sobrepôs às práticas religiosas tribais existentes no passado com o pretexto da difusão linguística portuguesa e do refrigério espiritual frente a tantas guerras existentes. Está tão presente na política do país, como o islamismo nos países muçulmanos e os evangélicos no Brasil. Inclusive praticando as mesmas incoerências e desmandos, impondo seus dogmas tal e qual, pois é controlando e disciplinando que se formam os exércitos de formiguinhas a levar comida para a formiga-rainha. Mas não podemos esquecer que religião é um fator cultural e, portanto, deve ser respeitado!
Mas a Indonésia fascina. O caos é um alerta e um convite à reflexão. A diversidade religiosa é um toque de arte, de cor, de perfume, de música, de movimento e de amor que, em sua filosofia nos deixa encantados, e em sua prática humana mundana, revoltados. Tudo isso num contexto de sabores picantes e exóticos, adornados por paraísos naturais diverso que vão desde os inúmeros vulcões ao paraíso cristalino de mares, praias e verdes recantos. Um país cujo povo sustenta a bandeira da Independência dos holandeses conquistada à força, um país que sofreu a invasão japonesa durante a segunda guerra e que, apesar de ter sofrido toda essa opressão, diz ter sido “forçada a anexar o território de Timor-Leste, dadas as condições instáveis daquele país e atendendo a pedidos de lideranças políticas timorenses.” – Palavras lidas no Museu Nacional da Indonésia, em Jakarta, no Monumento à Independência, Merdeka Square.
Parece irônico, mas é apenas humano e bem corriqueiro... se fizeram comigo, posso fazer com os outros!
Viajar amplia os horizontes!

Loron diak hotu-hotu!