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sábado, 14 de abril de 2012

Pensando a educação em Timor

Educar não é tarefa fácil. Muito menos educar em um país com uma cultura diferente da sua. E eu aqui em Timor-Leste tenho essa tarefa a qual, ingenuamente, comecei de trás pra frente. Preparei material que julgava importante e interessante, selecionei textos e estratégias metodológicas, estudei e reli Paulo Freire, e esqueci da lição mais elementar deste processo: educar a mim mesmo.
Eu, professor bem nutrido, vindo de um país que se julga desenvolvido mas que mal deu os primeiros passos para isto, repleto de esteriótipos educacionais – alguns, confesso, preconceituosos – com diplomas e leituras que, no meu parco entendimento, me fariam preparado para qualquer desafio na Educação, vim para este país com a função de colaborar com o ensino de Língua Portuguesa, um dos idiomas oficiais, porém com recente “empenho” da nação em seu estudo sistematizado.
Olha... talvez seja esse o fascínio de um educador: descobrir-se despreparado a cada novo desafio, perceber suas incompetências e... agir! Porque há duas possibilidades aqui: desespero ou busca por algum caminho mais interessante. Conforme o poeta norte-americano Robert Frost, que, em “The Road not taken – o caminho não percorrido”, mostra-nos bifurcações da vida que nos exigem decisão e coragem, escolhi a segunda alternativa que possuía, a qual, à forma do poema citado, “fez toda a diferença”.
Comecei por um trabalho interno muito grande, que demandou muita reflexão e precisei me despir das couraças que o sistema acadêmico brasileiro nos impinge, dos orgulhos inúteis fiz humilde aprendizado; das teorias insólitas, observação da realidade existente; dos discursos prontos, novas escrituras e atitudes; e, com uma boa dose de coragem e boa vontade, iniciei efetivamente meu trabalho.
Hoje, a cada cabeçada que dou no cotidiano de minha atuação profissional, a cada sucesso ou fracasso aparentes, revendo todo o processo organizado, percebo que nasce em mim um novo educador. Não aquele formado e diplomado. Mas aquele que está se construindo a partir de confrontos e paradoxos. Aquele que vem surgindo de um terreno aparentemente despreparado, mas que demonstra um vigor indiferente às suas condições de existência. Um educador que está engatinhando na tarefa do ensinar, apesar da bagagem de experiência adquirida ao longo de alguns anos, e que entendeu que a maior lição a ser aprendida já nos foi dada há tempos: “só sei que nada sei!”
Assim, nessa terra cujo povo já foi maltratado por invasores imperialistas cruéis portugueses, japoneses e indonésios, que impuseram seu poderio, cultura e idioma desrespeitando sua existência cultural e social... nessa terra cujos habitantes comunicam-se através de, pelo menos, 4 idiomas diferentes e não raras vezes 6 e até 8 línguas distintas, várias das quais impostas pelos históricos de dominação que possuem... nessa terra de gente pobre, mas feliz dentro das condições que possuem... de gente desconfiada, mas com um carinho superprotetor... nessa terra onde os paradoxos são imensos mas a vontade de existir dignamente se sobrepõe a tudo... foi bem aqui que eu, educador em formação, percebi que para ensinar é preciso estar disposto a aprender, sem condições ou pré-requisitos... é preciso estar nos problemas alheios e não apenas reconhecê-los como uma responsabilidade não sua... é preciso despir-se de conceitos aos quais nos apegamos por uma insanidade mascarada de qualquer coisa e perceber que educar vem de dentro, do olho no olho sincero, da real vontade de construir algo que faça bem a todos os envolvidos e que eu não sou ninguém pra determinar o que deve ou não deve ser aprendido, mas que o aprendizado real só é significativo quando as partes envolvidas descobrem-se cúmplices no processo.

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