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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Seis meses...


Seis meses em Timor... já é uma pequena caminhada! Embora pouco possa ser feito em apenas seis meses, sinto-me muito diferente daquele que aqui chegou em fevereiro. Claro que na essência sou eu mesmo, que minha teimosia taurina permanece e que os ranços mais densos da minha personalidade foram raspados, como assim tenho feito a cada dia de vida. Mas com certeza posso perceber alterações significativas tanto no Alexandre, aglutinando o ser humano e o profissional, quanto em minha visão a respeito deste país que, conforme já disse aqui inúmeras vezes, surpreende pelos paradoxos.

O Alexandre renovou-se bastante. Minha visão do papel do trabalho na vida é bem diferente daquela que tinha há um ano, por exemplo. O ritmo alucinado e quase escravocrata que nos impõem no Brasil capitalista e consumista de hoje nos afasta das pessoas, do lazer, da cultura, do descanso, nos adoece física e psicologicamente e nos atira num turbilhão de incoerências chamado sociedade. Paralelo a isto, a máfia em que se tornou a academia brasileira, as competições dentro da carreira e o academicismo medíocre fazem com que a Universidade, idealizada como fórum de discussões e busca por soluções para os problemas sociais, seja hoje um grande circo dos horrores, no qual poucos “carregam pianos” pesados e se preocupam realmente com os princípios universitários, e muitos, infelizmente, motivados por suas vaidades e sede pelo consumo, escalam-se uns aos outros, segregam, marginalizam e direcionam holofotes aos seu próprio ego, brincando de deuses de uma das maiores responsabilidades sociais: a Educação!
Aqui, longe dos apelos consumistas mais fortes, longe da lógica ocidental atordoada e infeliz e, principalmente, longe da disputa do Olimpo Universitário, sinto-me útil, cumprindo meu papel, contribuindo e realmente sentindo as diferenças que tenho feito na vida de pessoas e instituições. Sinto-me profissional e não escravo do meu trabalho. Sinto-me ser humano e não uma peça de jogo nas mãos de déspotas irresponsáveis!

Por sua vez, Timor-Leste tem hoje novas cores para mim. Está longe de ser o meu lar pois minhas raízes brasileiras são muito fortes. Mas entendo bem mais o Timor e, portanto, percebo nuances diversas daquelas iniciais. Os timorenses não são apenas um povo que sofreu com guerras, um povo primitivo ou atrasado... os timorenses são pessoas forçadas por inúmeros interesses a abandonarem a sua cultura e assumirem um ritmo, um padrão e valores diferentes dos seus próprios. Eles não passam fome, se alimentam como acham que deve ser e que o mundo capitalista chama de sub-alimentação. São desnutridos para os nossos padrões, mas vivem bem apesar disso e se não vivem melhor é porque culturas estrangeiras contribuíram pouco para seus hábitos alimentares. Moram com simplicidade, pois simples é a vida que querem pra si, mas estão se vendo forçados a, pouco a pouco, entrarem no ritmo capitalista de consumo de conhecimento, competição no mercado de trabalho e consumo de bens que antes ignoravam a existência. Assumiram religião, língua e costumes que não são os seus, porque os ensinaram que são importantes, fundamentais, melhores ou coisa do gênero.

Timor-Leste é hoje, para mim, um motivo de constante reflexão, um poema inacabado e um campo de muito trabalho, muito mais para mim do que para o país em si. Não é meu lar, como disse antes, aqui sou estrangeiro e penso que é bom me sentir assim... mas é um lugar pronto para o respeito daqueles que o compreendem e, se possível, para alguma colaboração naquilo que os timorenses entendem que seja necessário.

Vamos ver como serão nos próximos meses...

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