Maun sira, mana sira, diak ka lae?
Importante e impressionante como
o sentido de tempo perde o sentido quando o foco de nossas vidas aponta para
direções surpreendentes. Estou há quase dois meses em Timor e vivi já aqui mais
de seis meses de acontecimentos, aprendizagens de vida e desenvolvimento humano
e profissional. Meu trabalho é de gestor, aparentemente, mas de educador de
fato. E na educação não há tempo determinado, mas processo contínuo de
aprendizagens, encantos, desencantos e crescimento. As etapas que estabelecemos
nesse processo são meramente psicológicas, para que percebamos os degraus que
já galgamos (e os que ainda estão por vir!).
Nesse tempo intenso, eu já tive
oportunidade de auxiliar quem não conhecia a realidade desse país, desse povo e
as marcas, visíveis ou não, que ainda estão por cá. Lemos e discutimos sobre os
nossos ofícios. Nos submetemos às normais adaptações de ego pelas quais passam
todos os seres humanos que se dispõem a trabalhar em equipe. Ressignificamos nossas
vidas em um novo contexto, com novos personagens, novos enredos e novas expectativas.
E o mais interessante, talvez,
tenha sido viver tudo isso após um período de três meses em “meu” país, “minha”
cidade, com os “meus”! Num estágio providencial de vivência no ambiente que, no
passado, eu considerava o mais adequado possível, e que se configurou sufocante
e restrito, motivando as mudanças que me trouxeram ao “outro lado do mundo” ano
passado.
Algumas verdades de outrora são
hoje meras lembranças da pequenez do pensamento humano que insisti em manter
como carapaça de segurança – irreal – mas confortável que tinha. Os amores, os
valores e os temores são configurados de forma diferente hoje, mantidos seus teores,
mas nunca seus horrores! E aquilo que eu me impunha possessivamente como “meu”,
já não está tatuado na bolha que me convinha viver dentro.
Timor fez eu perceber que quem se
aventura no campo minado da Educação deve estar despido dos dogmas satisfatórios
da vida moderna e me fez entender que os conceitos de “país”, “lugar”, “tempo”,
“amores”, entre outros, são tão transitórios quanto convencionais e que a ideia
de que são nossos pilares de equilíbrio também é invertida. Nós somos nosso
próprio pilar e isso não é egoísmo ou isolamento, mas um aspecto elucidativo do
nosso papel responsável por nós mesmos, sem pré-requisitos ou responsabilidades
coadjuvantes.
Timor, cada vez mais, me
transmite a sensação de que precisamos de muito pouco para sermos felizes e
para entendermos que dignidade está muito mais relacionada com a forma como
organizamos nossas vidas do que com os impedimentos que estabelecemos para que
não nos sintamos bem!
“Professor, se é em português, em
bahasa indonésio, em tétum ou em inglês que vamos ter que conversar não
importa, o que importa é que os corações das pessoas consigam conversar sem
medo!” Assim me falou um professor de escola secundária (Ensino Médio)... assim
ele me desmontou... e me reconstruiu!
Loron diak ba hotu-hotu!