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domingo, 13 de maio de 2012

Lição de patriotismo

Uma outra questão importante a ser discutida com base nas experiências que estou tendo por cá diz respeito ao sentimento patriota e nacionalista do povo timorense. Diferentemente de nós, brasileiros, esse povo construiu a duras penas a sua pátria. E entendam, não estou eu aqui a dizer que nós não suamos a camisa em nosso dia a dia pelo amor ao nosso país (alguns não têm mesmo!) O que acontece no Brasil é mais uma luta pela sobrevivência e uma gana por acúmulo de riquezas desnecessárias.
O que vejo aqui é algo bem diferente! Lutaram por tornarem-se independentes de Portugal – e sabemos bem do caráter exploratório desse domínio e da incompetência administrativa que os companheiros portugueses possuem (vide Macau, Goa, Angola e nós mesmos) – sofreram invasões na 2ª. Guerra Mundial servindo de ponto estratégico para ataques japoneses e, quando se descobre petróleo por cá, sofreram o massacre da ocupação indonésia comandada pelo monstruoso Suharto. Para restabelecer a Independência que já possuíam e assumirem o seu país, os timorenses pagaram com sangue e destruição, dor, lágrimas, sofrimentos sem dó... E há 10 anos começaram tudo do zero.
O hino timorense, já publicado neste blog, mostra bem essa luta... a bandeira, com um triângulo preto, que representa o obscurantismo  a ser superado, um triângulo amarelo, que representa os traços do colonialismo, marcas de um passado, e a base vermelha que toma mais da metade da bandeira, representando a luta – com muito sangue – pela liberdade do país, tendo como guia a estrela – branca – da cor da paz que eles tanto anseiam. Nos primeiros minutos do dia 20 de maio de 2002, a bandeira da ONU foi descida vagarosamente enquanto que a bandeira oficial do país foi hasteada, sob lágrimas de toda a multidão que ali se aglomerava feliz, saudosa de parentes e amigos que deram suas vidas por aquele momento.
As cicatrizes dessa guerra não sararam ainda, mas as mágoas e dores foram convertidas num sentimento que denota a ideia de que, apesar de ter sido do jeito que foi, Timor-Leste agora é dos timorenses, e com todas as dificuldades existentes, são os timorenses quem conduzirão o seu país. Aceita-se ajuda internacional, mas no leme quem capitaneia são os interesses deste povo, pois já foi duro demais deixar o país nas mãos de quem não soube o que é respeito e dignidade humana.
Com essas palavras, fica bem fácil entender porque este mês de maio é tão importante para este povo, porque enfeitam suas casas, prédios, carros, ruas, vestem camisetas com a bandeira nacional, a qual está hasteada em todos os lugares possíveis. Nem que seja de forma bem rústica e simples, a alegria deste povo em sustentar um símbolo que muito significa para o povo timorense. Uma conquista, uma dor, um orgulho... um misto de sentimentos e emoções de um povo que não canta seu hino em copa do mundo, porque não possuem time de futebol... que não faz passeata com caras pintadas, porque seus governantes, ainda que a nós não pareçam os ideias, são aclamados popularmente e apoiados por todos... um país que não proíbe seu povo de usar sua bandeira e cores nacionais como nos aconteceu no período da ditadura... um país que é pobre sim, mas que não há fome, pois o sentido de economia solidária e agricultura familiar funciona sem necessidade de reforma agrária, movimentos sem-terra, coronéis latifundiários escravocratas e desonrosos políticos e suas leis ilícitas e desumanas... É um país com poucos recursos materiais e grandes potencialidades humanas e as religiões, fortes e mais que presentes, são um refresco para a dor e um alento para a esperança, não um afronta à organização política, ou se aventurando a manipular meios de comunicação, opiniões e leis por conta de seus interesses próprios, assumindo uma nova forma de colonialismo religioso...
Meus queridos, vivendo isso tudo, não há como entender que no Brasil, o cheiro patriota que possuímos tem sido responsável por reeleger incompetentes e manter esse carnaval que aí está há anos, cuja quarta-feira de cinzas não chega nunca, pois é necessário que todos acordem cedo pra trabalhar como máquinas pois, afinal, estamos construindo o Brasil do Futuro!
Aqui no Timor, um país perdido num passado distante, sinto-me anos-luz a frente e hoje entendo o significado de patriotismo!
Loron diak hotu-hotu!

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