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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Desvendando Dili

Diak ka lae

(cumprimento em Tétum)

Para desvendar a capital do Timor Leste, Dili, é preciso se aventurar na língua mais usada neste país: o Tétum. Ontem, eu e meus companheiros de jornada tivemos uma pequena aula, com algumas noções básicas deste idioma que se constitui fascinantes para os "amantes das línguas", como eu.
O Tétum é rico em termos do Português, organizado por uma estruturação linguística simples e de forte influência das línguas indonesias. Aos poucos vou assimilando os termos e expressões básicos para sobrevivência e aproximação com o povo daqui, o que é fundamental para mim.
O povo de Dili, devido ao massacre das guerras, é um povo jovem, com muitas crianças, poucos idosos e alguns adultos. Há crianças por toda parte, alegres, com esperança nos olhos, que nos abordam brincalhonas gritando "malae... malae (gringo)"
Seus sorrisos querem a todo instante aparecer em nossas fotos como que a se sentirem valorizadas... é o momento de fama que esperam e nos retribuem com simpatia e alegria. Deixa-me muito feliz perceber esse sentimento neles, pois num futuro não muito distante serão responsáveis pela condução deste país que, ainda que com pouco contato, já percebi que muito tem a nos ensinar.
Dili tem ainda suas marcas de guerra em vários prédios e ruas... a presença da guarda da ONU por todos os lados reforça essa ideia de que as coisas não estão exatamente em um estado normal, apesar de tudo parecer calmo. Há um clima de subserviência, por parte dos timorenses, em relação aos membros da ONU e aos estrangeiros em geral. Talvez pelo fato de se sentirem amparados por aqueles que aqui vieram por motivos interessantes ou não. O fato é que os estrangeiros que aqui estão movimentam a economia do país e, ao menos, inibem maiores conflitos.
Por outro lado, percebe-se um ar autoritário e superior por parte dos representantes institucionais e mesmo por parte de alguns membros de programas de cooperação, numa postura a meu ver inadequada para o tipo de trabalho que aqui se faz, mas que merece ainda mais observação e análise crítica de minha parte.
Dia desses caminhando pela orla eu vi algumas pessoas, umas três ou quatro, catando pedrinhas, cascalhos, formações calcáreas da praia. Essas pessoas separam em montes e depois ensacam esse material, devidamente separado por tipo e tamanho. Fui investigar e descobri que esses materiais são utilizados na construção civil e o governo daqui proibiu qualquer empresa de fazer tal exploração por entender que esta é uma fonte de renda importante para algumas famílias do país. Vai aprendendo, Brasil!
Outro dia fui abordado por alunos da Universidade Nacional do Timor Leste, instituição onde estou trabalhando. Eram calouros que estavam vindo fazer suas matrículas na universidade, o que atesta uma vitória sem igual para as famílias desses jovens. A felicidade estampada no sorriso desses seres foi algo que me trouxe lágrimas aos olhos e a sinceridade que coloria suas conversas conosco era um convite a fazer do meu trabalho de professor algo de significativo na vida deles.
Estão muito ansioso pelo início das aulas, querem nos conhecer, ter aulas conosco, aprender o idioma português, o que me parece um grande motivo de orgulho para eles. Estou eu aqui nervoso só de pensar como será o convívio com eles em sala de aula.
Falando mais uma vez sobre idiomas, o povo de Dili é poliglota, de tal forma que nos deixa encabulados. Falam o Tétum, o Bahasa Indonesio, Inglês, os dialetos variados que por aqui existem e ainda há os que falam português. É impressionante e, mais uma vez, algo que nós brasileiros devemos aprender com os timorenses. A valorização da cultura de um país, a formação cidadã e a conquista da autonomia perpassa pela comunicação amigável, pelo resgate das origens culturais e linguísticas e pela educação bem estruturada que propicia isto.
Será que Blumenau conseguirá entender esse exemplo com relação à língua alemã? Será que o Brasil um dia entenderá a importância do ensino da Língua Portuguesa nas escolas? Será que haverá um dia em nosso país alguém que resolva assumir a educação com responsabilidade e que tenha vontade de ofertar um ensino de Inglês e Espanhol com um mínimo de respeito pela formação dos cidadãos brasileiros?
Esses são os questionamentos que hoje vão finalizar minhas reflexões sobre o fascinante universo da cidade de Dili que eu estou apenas começando a tatear.

Até

Um comentário:

  1. Muito bem, conseguiu me fazer choramingar! Vai fundo meu amor, essa experiência, dia a dia, vai te fazer ainda mais brilhante!

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