Total de visualizações de página

terça-feira, 20 de março de 2012

Cantando o Timor

Estar no Timor, é cantar... e, conforme o poeta, “quando o canto é reza, todo toque é santo!”

Escuto por aqui histórias de arrepiar os cabelos! Relatos da guerra, a “caçada” aos timorenses, a morte de parentes e amigos, a fuga e o esconderijo na floresta, nas montanhas, as torturas e massacres... e isso, dito por bocas que ainda não calaram a dor em si, mas não a transformam em motivo de depressão ou para despertar a piedade alheia, mas na intenção única de alertar a todos para que nada disso volte a acontecer... Nessas horas eu canto!

Leio textos de meus alunos falando das dificuldades por eles vencidas para estarem em um banco universitário. O orgulho que possuem por terem alcançado esse estágio e a vontade de ajudarem o seu país, ainda que não saibam como, mas, na visão deles, a universidade dará esse rumo!!! Contam-me da pobreza em que vivem seus familiares, da escassez na infância e da dificuldade em se manterem na capital do país, longe de todos e sem recursos que permitam que se alimentem adequadamente... Nessas horas eu canto!

Converso com professores que realizam trabalhos miraculosos com turmas de 100, 120 alunos e conseguem que estes construam conhecimentos e que consigam fazer reflexões valiosas a respeito das condições de seu país e de seu povo. A respeito do que aconteceu-lhes historicamente e do que há ao redor ainda hoje como ameaça. Da suposta ajuda das cooperações internacionais e da presença da ONU neste território. Da força da religião por aqui e da esperança que todo esse conhecimento venha trazer-lhes algum alívio nacional... nessas horas eu canto!

Comparo tudo isso que vejo por aqui com aquilo que deixei no meu país. Vejo aqui ainda a impunidade daqueles que exterminaram 200 mil pessoas timorenses impiedosamente, assim como vejo a impunidade daqueles que torturaram e mataram muitos brasileiros que queriam um país realmente livre e democrático. Vejo aqui uma elite que usufrui de riquezas e uma multidão de pessoas que se alimenta precariamente, assim como vejo os políticos brasileiros fazerem carreira político e pouco contribuírem para sanar nossas carências mais elementares. Mas vejo aqui uma unanimidade com relação à Educação e ao papel do educador que jamais, nem de longe, percebi na sociedade brasileira. Nessas horas... eu paro de cantar!!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário