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sexta-feira, 9 de março de 2012

Refletindo..

Diak ka lae
Nessas minhas andanças pela educação eu já tive oportunidades preciosas as quais agradeço sempre por ter vivido. Trabalhar com crianças, com pessoas especiais, com idosos, dar cursos em presídio, lidar com adolescentes, jovens adultos em cursos de graduação e pós-graduação, compartilhar saberes em formação de professores nos diversos espaços do Brasil que me foram designados, tudo isso me traz alegria, experiência e regozijo. Isso em contar nos momentos “informais” com pessoas iluminadas e que sempre me trouxeram grandes ensinamentos. Lidar com gente não tem preço, não tem tempo certo nem palavras pra descrever... é vida!
No entanto, o que vivo aqui em Timor-Leste é “bue fixe”, como dizem os amigos portugueses que já fiz por cá. O meu “eu-educador” está sendo educado de uma maneira tão intensa quanto o meu “eu-pessoa”... e nem sei se essa separação cabe, mas prefiro assim.
A postura dos alunos timorenses é algo de inusitado e, talvez, motivo de riso para os brasileiros que já se julgam superiores e adotaram a postura imperialista que está sendo incutida sutilmente em nossa cultura.
A cada aula que dou, surpreendo-me e me emociono com detalhes que, para mim, fazem toda a diferença. “Professor, obrigado pela oportunidade de participar de sua aula, gostaria de ler o meu texto para o senhor e meus colegas!” Assim falam todos os alunos, de pé, antes de responderem qualquer questão. E são ouvidos com respeito e atenção por todos em sala. Aqui, o momento em sala de aula é a oportunidade que eles possuem de aprenderem, crescerem e, futuramente, ajudar o país deles!
Esse respeito e consideração mistura-se à humildade que transmitem no olhar, na voz e nos gestos quando, ao serem por mim corrigidos em suas tarefas, estendem a mão, olham-me nos olhos e dizem “Obrigado, professor”... fica no ar o complemento desta frase – “por estar me ajudando”.
E há brincadeiras, há discordâncias, há tudo o que uma sala de aula normal possui. No entanto há também o respeito, a vontade de aprender e a consideração com os demais presentes.
Reclamar do calor em uma sala de aula com mais de 40 alunos e apenas um ventilador não resolve o problema da temperatura. Reclamar do salário pequeno recebido pelos professores e usar isso como desculpa para um trabalho desclassificado e desumano na educação também não resolve nada. Reclamar por que não há condições físicas de trabalho e se desmotivar com tudo isso não é a solução.
Meus amigos educadores – professores ou não – se o caos está instalado na educação brasileira, não há maiores responsáveis por isso que nós mesmos, quer como profissionais da educação que historicamente não estamos exercendo nosso ofício com a qualidade que juramos ao nos graduarmos, que como cidadãos que não estamos sabendo construir o respeito nos ambientes e relações em nosso país.
Em Timor, o professor é respeitado e impõe-se a partir do trabalho de qualidade que faz, com recursos tão escassos quanto os que encontramos na maioria das escolas do Brasil. Não há livros para os alunos; as salas de aula possuem, no mínimo, 50 alunos; o salário médio de professores com graduação é de 200 dólares, não há fotocopiadoras, não há retroprojetores, não há computadores, não há tecnologia; os quadros são realmente negros, pintados nas paredes; as carteiras são daquelas antigas que sentam-se 3 alunos juntos; há poucos ventiladores; não há bebedouros na universidade; as bibliotecas são escassas.
No entanto, não há evasão escolar, os professores se dedicam de corpo e alma à sua tarefa educacional, os alunos têm sede de aprender, o sindicato dos professores pressiona o governo e consegue diversos benefícios para a Educação – dentro das possibilidades do país – exatamente porque entende-se a importância e reconhece-se a qualidade do que é feito, dadas as complicações encontradas.
No Brasil, temos a péssima mania de responsabilizarmos uma terceira pessoa pelos problemas que encontramos. Muitas vezes essas pessoas são os políticos que governam o país. No entanto, esquece-se que não é o político que está na sala de aula formando seres humanos e opiniões. Nós, professores, possuímos uma força incrível em mudar a nossa realidade e a realidade de todos. Com nossos alunos, ensinando-os a agir pela modificação coletiva. Entre nós, estudando e realizando um trabalho digno de excelência. E nos diversos meios sociais que participamos, discutindo, denunciando, alimentando os pensamentos e, principalmente, impedindo que pessoas incompetentes voltem ao poder. Nós fazemos os políticos de nosso país! Vamos pensar nisso!
Obrigado Barak !

Um comentário:

  1. É isso. Quem está na sala de aula formando os futuros dirigentes do país de nossos filhos e netos não são os políticos corruptos, assim como os corruptos no poder não foram colocados lá apenas por outros iguais a eles.

    Keep up the good work!

    =*)

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