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sábado, 3 de março de 2012

Pensando...

“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é!”
Na sabedoria de Caetano, as aventuras e desventuras que tenho percebido em meu quase mês em Timor-Leste. Até pensei em começar este texto com algum título do tipo “Timor-paradoxo-leste”, mas achei que seria pretensão de um estrangeiro – malae como aqui se diz – que vem de um país que é igualmente um paradoxo, onde há mendigos nas esquinas, uma sistema de justiça injusta, um bando de caciques brincando de mandar, mas um país querendo se bancar de desenvolvido... enfim... isso é papo pra outra hora!
Timor é um delícia... uma delícia dolorosa de se provar! Vive-se um calor de dar inveja ao Inferno, o Sol aqui faz questão de nos mostrar o quão quente e poderoso ele é... um verdadeiro Deus. Isso faz com que o mar seja o mais belo que eu já pensei em ver. O contraste do verde das montanhas com o azul indescritível é fascinante. E há quem me diga que ainda fará mais calor nos meses de junho e julho quando for o período de seca. Vejamos!
O país vive um momento político interessante. Aquelas pessoas que, no passado, lideraram a imprescindível guerrilha para romper definitivamente com os desmandos da Indonésia, hoje mostram-se incompetentes para governar um país com riquezas e muita pobreza... um país que possui praias mais belas que as de Bali e um IDH que é a metade de países com dificuldades como a Bolívia.
Um país que demonstra ter uma preocupação com a Educação, porém com modelos e perspectivas ocidentais em uma realidade totalmente oriental... acreditem, o conceito de vida e de organização social no oriente é diferente, bem diferente, daquilo que estamos acostumados. Seguem alguns, poucos, exemplos:
- Praia não é sinônimo de lugar para exibir corpos, tomar banho de sol, nadar ou coisa do gênero. Praia é um lugar belo, dado pela natureza, para se reunir família, amigos, companheiros, descansar, ouvir música, fazer um piquenique e se desfrutar do cenário existente.
- Trabalho não é sinônimo de escravização, mas de necessidade humana. Trabalha-se o necessário por dia, nem mais nem menos, porque o dia também precisa ser compartilhado com parentes e amigos.
Pensando nisto, muito me vem à cabeça e ao sentimento. Vejo o ritmo alucinado de trabalho que tinha no Brasil e comparo com o ritmo disciplinado que tenho agora. Deixei de aprender muita coisa porque eu tinha que trabalhar, porque eu tinha que ganhar tantos reais para pagar tantas contas. Trabalhei um tanto que nunca foi valorizado nem pelo meu ambiente de trabalho, tampouco pelo meu país. Ou eu deixava de lado momentos de lazer porque estava cansado ou para me preservar, ou eu jogava tudo para o alto e trabalhava cansado colocando em risco a minha saúde.
Hoje, quando entro numa sala de aula e alunos me agradecem pela minha presença em seu país, quando converso com professores da Universidade onde trabalho e percebo o quão importante o meu trabalho é para o local onde todos estamos, quando percebo que uma aula de 2 horas foi vencida com muita dificuldade e suor (literalmente) mas que algo realmente fez sentido para aquelas pessoas, eu percebo que algo estava muito errado e eu, cego pela pressa de uma escravidão, não conseguia perceber.
O Timor está longe de ser um paraíso de almas iluminadas, mas para mim, nesse primeiro mês de vivência aqui, o Timor iluminou um paraíso existente em mim e que a minha pátria não mediu esforços em apagar diariamente.
Estou me sentindo um educador de novo, estou sentindo que há caminhos possíveis, que compartilhar é imprescindível e que eu ainda tenho muito o que aprender porque tudo está apenas começando...
Uma coisa é certa, não há progresso, dinheiro, conforto que mereça o sacrifício de meus dias, muito menos de meu tempo de aprendizado e a delícia de perceber isso reside na dor de renúncias que todos poderíamos aprender a realizar... devagarzinho... de mansinho... mas com vontade!

2 comentários:

  1. Xandy,
    Esse trecho aqui eh muito bonito:
    "O Timor está longe de ser um paraíso de almas iluminadas, mas para mim, nesse primeiro mês de vivência aqui, o Timor iluminou um paraíso existente em mim e que a minha pátria não mediu esforços em apagar diariamente."
    Eh uma pena que a loucura capitalista de " acumulacao a qualquer custo " tenha nos invadido e nos escravizado.Lendo seu texto refleti sobre que tipo de vida eu gostaria de ter e que tipo de vida eu estou tendo...Enfim,eh sempre bom refletir.
    Lindo texto.

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