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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Relatos Timorenses IX


“Professor, quando alguém vai casar tem que pagar o barlaque que é da nossa cultura. É uma forma de valorizar a mulher. O homem e sua família dão o barlaque para a família da mulher. Para pagar o barlaque deve se dar búfalos, porcos, cabritos e dinheiro. Cada distrito tem um valor diferente para o barlaque. As famílias combinam os valores e acontece a cerimônia de entrega do barlaque e para fazer o compromisso do casamento (noivado). Toda a família do noivo e toda a família da noiva são convidados, também os amigos e outros convidados. Acontece as orações e os votos do noivo e da noiva. E acontece uma refeição com muitas comidas e bebidas para todos. É muito bonito e importante. Depois passa o tempo para preparar o casamento e os noivos se casam com a bênção de Deus, como tem que ser.
- Então o barlaque tem valor diferente dependendo do distrito timorense?
Sim, professor. O distrito de Lospalos é o mais caro de barlaque. (muitos risos!) Para casar com as mulheres de lá os homens tem que ter muito dinheiro. (mais risos!) As mulheres de Lospalos são mais valiosas! (risos altos!)
- E onde é que é mais barato o barlaque?
Em Oécussi, professor. Lá é distante. Pouca gente quer ir para lá casar. Então é mais barato! Coitadinha das mulheres de Oécussi, professor! (muitos risos)
- Não parece a vocês que os homens compram as mulheres para serem suas esposas e depois elas têm que obedecer a eles durante toda a sua vida?
Não professor, a mulher que recebe o barlaque é valorizada... foi escolhida especialmente. Em troca ela dedica-se ao marido, aos filhos e ao lar. O barlaque é da nossa cultura, professor. É muito importante para construir as famílias de bem.
- E os meninos, o que pensam do barlaque?
Eu quero, professor, trabalhar e poder ter condições de pagar o barlaque de uma mulher que é muito especial para mim. Um homem que não consegue isso professor, é um coitadinho. Não cumpriu seu dever de homem de bem.”

(Uma de minhas aulas com alunos de Geologia e Petróleo sobre as questões culturais timorenses e que, como tantas outras aulas, balançaram minhas verdades e me transformaram em um grande ponto de interrogação!)

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