Total de visualizações de página

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Relatos VIII


“- Eles vinham em bandos, entravam em nossas casas, destruíam os móveis e as poucas coisas que havia. Quebravam as janelas e levavam as pessoas para fora. Algumas eles matavam, outras eles levavam presas. Por fim colocavam fogo nas casas, nos lençóis e nas roupas dos armários. Nossos animas e verduras eles levavam para alimentar os outros soldados. Meu pai eu vi morrer no terreno ao lado de nossa casa quando ele tentou impedir um soldado de bater em minha mãe. Meu irmão mais velho foi levado pelos cabelos para dentro de uma carrinha e eu nunca mais vi. Eu, minha mãe e minhas irmãs fomos para um campo de prisioneiros. Lá eu lembro que tinha muita fome e que fiquei doente.  Um dia a comida era casaca de batatas cruas dentro de uma bacia com água quente. Os soldados chamaram de sopa de legumes. Eu fui levada para um posto hospitalar da cruz vermelha. Lá eu me recuperei e só muito tempo depois eu reencontrei minhas irmãs.
- E  sua mãe? Não a viu mais?
- Não! As minhas irmãs disseram que ela ficou doente e morreu no campo dos prisioneiros. Seu corpo foi queimado junto com os outros doentes que morreram. Assim os indonésios faziam para não espalhar a doença para as pessoas.”

(Eu me segurava para não chorar, ela, professora universitária, colega timorense, contava sua história com um orgulho de ter algo que comprovasse que era especial, afinal, ela havia sobrevivido a tudo aquilo e, hoje, estava se preparando para desfrutar de uma bolsa de estudos para seu doutoramento em Portugal)

Nenhum comentário:

Postar um comentário