“- Eles vinham em bandos, entravam em nossas casas,
destruíam os móveis e as poucas coisas que havia. Quebravam as janelas e
levavam as pessoas para fora. Algumas eles matavam, outras eles levavam presas.
Por fim colocavam fogo nas casas, nos lençóis e nas roupas dos armários. Nossos
animas e verduras eles levavam para alimentar os outros soldados. Meu pai eu vi
morrer no terreno ao lado de nossa casa quando ele tentou impedir um soldado de
bater em minha mãe. Meu irmão mais velho foi levado pelos cabelos para dentro
de uma carrinha e eu nunca mais vi. Eu, minha mãe e minhas irmãs fomos para um
campo de prisioneiros. Lá eu lembro que tinha muita fome e que fiquei
doente. Um dia a comida era casaca de
batatas cruas dentro de uma bacia com água quente. Os soldados chamaram de sopa
de legumes. Eu fui levada para um posto hospitalar da cruz vermelha. Lá eu me
recuperei e só muito tempo depois eu reencontrei minhas irmãs.
- E sua mãe? Não a
viu mais?
- Não! As minhas irmãs disseram que ela ficou doente e
morreu no campo dos prisioneiros. Seu corpo foi queimado junto com os outros
doentes que morreram. Assim os indonésios faziam para não espalhar a doença
para as pessoas.”
(Eu me segurava para não chorar, ela, professora
universitária, colega timorense, contava sua história com um orgulho de ter
algo que comprovasse que era especial, afinal, ela havia sobrevivido a tudo
aquilo e, hoje, estava se preparando para desfrutar de uma bolsa de estudos
para seu doutoramento em Portugal)
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