“- Professor, Timor-Leste vive hoje como um jovem. O que
querem os jovens? Aproveitar sua liberdade. Mas isso sempre é perigoso, não é
professor? Eu sou mãe de dois rapazes e vivo dizendo a eles que estudem, que
consigam trabalhar e que formem uma família respeitosa. Porque o pai deles,
seus tios e muitos amigos nossos tiveram que passar pela dificuldade dos
massacres de Timor. Meu marido morreu no massacre de Santa-Cruz. E não puderam
ver o país livre da Indonésia. Mas meus filhos podem e vão criar os seus filhos
com liberdade. Professor, Timor-Leste não precisa ser rico com o dinheiro,
precisa ser rico com o respeito aos direitos humanos. Eu vi meu pai ser
torturado e morto. Eu e meus irmãos. Foi Deus, nosso senhor, que não permitiu
que eu fosse morta. Passei muita fome no campo de prisioneiros. Algumas amigas
minhas foram abusadas pelos soldados indonésios. Eu sempre fui feia e isso me
salvou. Os timorenses que tinham dinheiro naquela altura já haviam saído de
Timor-Leste. Então, professor, não é a riqueza que nos salva, não é a beleza, é
a dignidade.
- Mas a senhora disse que seu pai foi morto, seus irmãos,
amigos, até seu marido. Por que eles não foram salvos?
- Professor, a dignidade é uma arma muito forte que assusta
as pessoas. Os soldados indonésios tinham medo da dignidade timorense. De sua
crença religiosa, de sua vontade política. Toda a gente queria Timor-Leste um
país com igualdade para todos. Isso assusta. E os soldados tinham as pistolas e
outras armas na mão. Para se defenderem da dignidade, matavam as pessoas.
Muitas pessoas morreram defendendo a dignidade das pessoas que ficaram vivas.
- E hoje? A senhora acredita que foi válido todo esse
sacrifício?
- Não precisava ser assim, professor. Mas a vontade do
dinheiro faz as pessoas ficarem malucas e matarem até mesmo as pessoas para
terem mais dinheiro. Então, por isso mesmo, é importante que as pessoas lutem
por suas vidas, pela vida de suas famílias e amigos. Ou então vamos ser
escravos dos mais fortes, não é mesmo, professor?”
(Conversa com uma aluna de 36 anos com aparência de 50 e que
hoje trabalha no ministério da Educação em Timor-Leste)
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